Naiana Magalhães apresenta rara compreensão da imagem em movimento, criando filmes, onde situações corriqueiras e familiares tornam-se apartadas da trivialidade para adquirirem teor enigmático. Com graduação no curso de Artes Visuais da Universidade de Fortaleza (2012); aluna do Laboratório de Artes Visuais da Vila das Artes em Fortaleza (2012), da Escola de Artes Visuais do Parque Lage (2013-2014), e, agora, mestranda no Programa de Pós-Graduação em Artes da Universidade Federal do Ceará (PPGArtes), a artista se apropria da câmera para registrar observações de esguelha, enviesadas, por entre as frestas de portas e janelas. De outro modo, sobrevém a observação distanciada, a ponto de se omitir-se frente aos personagens da narrativa. Naiana faz uso de certo ar irônico e surrealista, pois retira de fatos diversos, repetitivos, o absurdo do comportamento humano.
Diante das portas de cabines dos banheiros femininos, a artista registra a agitada movimentação nos oferecendo a visão recortada, pela metade, do piso, onde entram e saem pernas evidenciadas, apenas, pelos tornozelos e pés. A barulhenta circulação torna os assuntos, os rumores, passíveis de certa graça inusitada. E o tom da narrativa é vivamente sublinhado pelo enquadramento da imagem, assim como por seus cortes. Ao final, uma das personagens percebe que há uma câmera furtiva, indiscreta e o filme termina antes de nos revelar o rosto da mesma.
Torna-se bastante louvável perceber a força da imagem e de sua inserção num contexto que somente pode fornecer sensações atributivas, como a curiosidade, o fetichismo, por se tratar das finalidades sem fim da obra de arte.