Durante o ano de 2016, acompanhei a pesca artesanal no estado do Ceará. Sob a pergunta norteadora: “depois que a jangada sai, o que acontece?”, me lancei
ao alto mar acompanhando os pescadores, mas, ao entrar no mundo da pesca, também entrei nos conflitos entre a pesca artesanal e o modo de vida
gentrificador e capitalista das grandes cidades litorâneas.
Esta pesquisa iniciou-se no Laboratório de Artes Visuais da escola Porto Iracema das Artes, sob a tutoria da artista Maria Helena Bernardes. A investigação
desdobrou-se também em outros vídeos, além deste filme que leva o nome do projeto “Sombra do Tempo” finalizado em 2019.
O título do trabalho provém de uma história biográfica que agrego a esta pesquisa, como um dos elementos que ajudaram a alimentá-lo. Meu pai, em sua
juventude nos anos 1980, era mergulhador e sempre que chegava a uma praia logo entrosava-se com os pescadores locais. Percorreu, assim, todo o litoral do
estado. Em uma de suas primeiras saídas de jangada, contou-me que avistou umas sombras imensas e assustou-se pensando que era algum animal de
grandes proporções ao redor da frágil e diminuta embarcação. Ao que o jangadeiro respondeu: “Não, isso é a sombra do tempo”. Eram as sombras das nuvens
na água. Em Fortaleza, o tempo (o clima) não muda muito. Chove ou faz sol, sendo a maior parte do ano ensolarado mesmo. O maior sinal de mudança do
tempo para o jangadeiro é através do vento e das nuvens.
Essa passagem de história pessoal marca minha posição durante a vida em relação ao mar: a de espectadora. Eram outras pessoas que o adentravam e
traziam histórias. Minha convivência com o mar tinha o limite da praia, em atividades ligadas ao lazer e à contemplação, de acordo com o contexto de cidade
litorânea, praia urbana.
Assim, esta pesquisa se coloca como um ponto de virada na minha construção de maritimidade, ainda que carregue minha abordagem urbana, pois em meus
trabalhos anteriores nos quais me relaciono com o mar, o oceano não chega a aparecer, mas paira com indícios. Nesse momento, movida pela pergunta “O
que acontece depois que a jangada sai?”, adentro o mar propriamente físico.
Antes, minha visão alcançava o ponto de vista contemplativo na direção do mar, imensidão atravessada por tantas poesias, pinturas, aventuras, guerras,
elaborações intelectuais e poéticas na história da humanidade. Agora, me coloco em outro ponto de vista, do lado oposto: de pé na jangada, mirando outro
mar de pedras e concreto – imensidão atravessada por disputas territoriais, gentrificação, desigualdade social, riqueza e miséria. Mar este que a pesca
artesanal também navega.
Durante o ano de 2016, acompanhei a pesca artesanal no estado do Ceará. Sob a pergunta norteadora: “depois que a jangada sai, o que acontece?”, me lancei
ao alto mar acompanhando os pescadores, mas, ao entrar no mundo da pesca, também entrei nos conflitos entre a pesca artesanal e o modo de vida
gentrificador e capitalista das grandes cidades litorâneas.
Esta pesquisa iniciou-se no Laboratório de Artes Visuais da escola Porto Iracema das Artes, sob a tutoria da artista Maria Helena Bernardes. A investigação
desdobrou-se também em outros vídeos, além deste filme que leva o nome do projeto “Sombra do Tempo” finalizado em 2019.
O título do trabalho provém de uma história biográfica que agrego a esta pesquisa, como um dos elementos que ajudaram a alimentá-lo. Meu pai, em sua juventude nos anos 1980, era mergulhador e sempre que chegava a uma praia logo entrosava-se com os pescadores locais. Percorreu, assim, todo o litoral do estado. Em uma de suas primeiras saídas de jangada, contou-me que avistou umas sombras imensas e assustou-se pensando que era algum animal de grandes proporções ao redor da frágil e diminuta embarcação. Ao que o jangadeiro respondeu: “Não, isso é a sombra do tempo”. Eram as sombras das nuvens na água. Em Fortaleza, o tempo (o clima) não muda muito. Chove ou faz sol, sendo a maior parte do ano ensolarado mesmo. O maior sinal de mudança do tempo para o jangadeiro é através do vento e das nuvens. Essa passagem de história pessoal marca minha posição durante a vida em relação ao mar: a de espectadora. Eram outras pessoas que o adentravam e traziam histórias. Minha convivência com o mar tinha o limite da praia, em atividades ligadas ao lazer e à contemplação, de acordo com o contexto de cidade litorânea, praia urbana.
Assim, esta pesquisa se coloca como um ponto de virada na minha construção de maritimidade, ainda que carregue minha abordagem urbana, pois em meus trabalhos anteriores nos quais me relaciono com o mar, o oceano não chega a aparecer, mas paira com indícios. Nesse momento, movida pela pergunta “O que acontece depois que a jangada sai?”, adentro o mar propriamente físico. Antes, minha visão alcançava o ponto de vista contemplativo na direção do mar, imensidão atravessada por tantas poesias, pinturas, aventuras, guerras, elaborações intelectuais e poéticas na história da humanidade. Agora, me coloco em outro ponto de vista, do lado oposto: de pé na jangada, mirando outro mar de pedras e concreto – imensidão atravessada por disputas territoriais, gentrificação, desigualdade social, riqueza e miséria. Mar este que a pesca artesanal também navega.
O título do trabalho provém de uma história biográfica que agrego a esta pesquisa, como um dos elementos que ajudaram a alimentá-lo. Meu pai, em sua juventude nos anos 1980, era mergulhador e sempre que chegava a uma praia logo entrosava-se com os pescadores locais. Percorreu, assim, todo o litoral do estado. Em uma de suas primeiras saídas de jangada, contou-me que avistou umas sombras imensas e assustou-se pensando que era algum animal de grandes proporções ao redor da frágil e diminuta embarcação. Ao que o jangadeiro respondeu: “Não, isso é a sombra do tempo”. Eram as sombras das nuvens na água. Em Fortaleza, o tempo (o clima) não muda muito. Chove ou faz sol, sendo a maior parte do ano ensolarado mesmo. O maior sinal de mudança do tempo para o jangadeiro é através do vento e das nuvens. Essa passagem de história pessoal marca minha posição durante a vida em relação ao mar: a de espectadora. Eram outras pessoas que o adentravam e traziam histórias. Minha convivência com o mar tinha o limite da praia, em atividades ligadas ao lazer e à contemplação, de acordo com o contexto de cidade litorânea, praia urbana.
Assim, esta pesquisa se coloca como um ponto de virada na minha construção de maritimidade, ainda que carregue minha abordagem urbana, pois em meus trabalhos anteriores nos quais me relaciono com o mar, o oceano não chega a aparecer, mas paira com indícios. Nesse momento, movida pela pergunta “O que acontece depois que a jangada sai?”, adentro o mar propriamente físico. Antes, minha visão alcançava o ponto de vista contemplativo na direção do mar, imensidão atravessada por tantas poesias, pinturas, aventuras, guerras, elaborações intelectuais e poéticas na história da humanidade. Agora, me coloco em outro ponto de vista, do lado oposto: de pé na jangada, mirando outro mar de pedras e concreto – imensidão atravessada por disputas territoriais, gentrificação, desigualdade social, riqueza e miséria. Mar este que a pesca artesanal também navega.